Nome literário de Priscila Dulce Dalledone Siqueira
Paranaense, cinco filhos, vive em São Sebastião desde 1962. Jornalista, é autora de Tráfico de pessoas: oferta, demanda e impunidade (2004), O sonho de Julieta (2014) e A outra face de Eva (2015). É uma das fundadoras do SOS Mata Atlântica e do Movimento de Preservação de São Sebastião.
UM TEMA QUE INCOMODA E INSTIGA
Conhecer e compreender a cultura e o modo de ser do caiçara não é simples. Exige, antes de tudo, delicadeza e humildade, e saber compartilhar de suas angústias, especialmente o caiçara de origem centenária, que viveu praticamente isolado nas praias e sertões do Litoral Norte, até que o “progresso”, com seus advogados, máquinas e capatazes, chegou destruindo tudo, suas terras, suas casas, seu dia a dia de pesca, lavoura de subsistência e muitas festas, religiosas e profanas.
Priscila Siqueira talvez seja a única jornalista e ativista social que conseguiu retratar com profundidade e extrema sensibilidade esse período, que, não por acaso, começou nos “anos dourados” da ditadura militar. Um ciclo que ainda não se encerrou, porque o que se perdeu, perdido está, e o que restou dessa época continua agravando a vida das novas gerações.
Esta terceira edição de Genocídio dos Caiçaras vale tanto pela leitura do passado quanto projeção sobre o presente, visto que o tema continua instigante, ainda incomoda.
Mesmo antes de se envolver como jornalista nos conflitos sociais do caiçara, Priscila já atuava em outras frentes pela dignidade humana, pela justiça, em favor dos menos favorecidos. Uma trincheira que ela nunca abandonou. Prova disso são os convites que recebe para dar palestras mundo a fora, como uma das principais vozes brasileiras contra a prostituição infantil e o tráfico de mulheres.
Digo tudo isso com muito orgulho pois tive, também como jornalista e residente em Ubatuba, o privilégio de conviver com Priscila na época retratada em seu livro, ambas representantes de dois grandes jornais. Com ela, aprendi muito. Juntas, transformávamos nossa indignação em notícia, usávamos nossas credenciais para literalmente abrir porteiras, entrevistar os poderosos. Priscila Siqueira foi e é uma forte inspiração de profissão e vida.
CÉLIA ROMANO
Olá Priscila. É um
prazer contar com a sua participação no Blog Divulgando Livros e Autores da
Scortecci do Portal do Escritor.
Do
que trata o seu Livro? Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que
se destina sua obra?
A
primeira edição do “Genocídio dos Caiçaras” aconteceu em 1984, em plena
ditadura militar. Eu era, na época, repórter da Agência Estado que incluía além
do jornal o Estado de S. Paulo, o Jornal da Tarde que não existe mais e a rádio
Eldorado. Sendo correspondente regional, minha responsabilidade como
jornalista, era cobrir o litoral norte paulista e sul fluminense.
Dessa forma, tive o privilégio de testemunhar, o que ocorria na região litorânea cortada pela rodovia Rio-Santos. Como muito das matérias que eu escrevia não eram publicadas, resolvi fazer um livro de reportagens-mostrando o que a especulação imobiliária, o capital até mesmo estrangeiro e um regime de exceção podem fazer com as populações mais vulneráveis desse nosso País.
Por que a terceira edição de um livro, depois de 35 anos?
Porque, ainda moradora nesse litoral, fica claro para mim que as ameaças de expulsão dos caiçaras - os caboclos do litoral brasileiro- ainda estão presentes. Ainda mais com um governo federal que menospreza as populações ancestrais, tidas por ele como “não produtivas”. Daí, a ameaça concreta contra os quilombolas, os índios e os caiçaras.
A reedição do livro, está suscitando uma discussão do problemas com os caiçaras que conseguiram permanecer em suas paias, e que hoje se organizam para enfrentar o desafio que a ganância da especulação imobiliária faz pairar sobre eles.
Dessa forma, tive o privilégio de testemunhar, o que ocorria na região litorânea cortada pela rodovia Rio-Santos. Como muito das matérias que eu escrevia não eram publicadas, resolvi fazer um livro de reportagens-mostrando o que a especulação imobiliária, o capital até mesmo estrangeiro e um regime de exceção podem fazer com as populações mais vulneráveis desse nosso País.
Por que a terceira edição de um livro, depois de 35 anos?
Porque, ainda moradora nesse litoral, fica claro para mim que as ameaças de expulsão dos caiçaras - os caboclos do litoral brasileiro- ainda estão presentes. Ainda mais com um governo federal que menospreza as populações ancestrais, tidas por ele como “não produtivas”. Daí, a ameaça concreta contra os quilombolas, os índios e os caiçaras.
A reedição do livro, está suscitando uma discussão do problemas com os caiçaras que conseguiram permanecer em suas paias, e que hoje se organizam para enfrentar o desafio que a ganância da especulação imobiliária faz pairar sobre eles.
Fale de você e de seus projetos no
mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de
plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
Genocídio
dos Caiçaras é o meu primeiro livro. Depois dele, publiquei “O sonho de
Julieta”, ”Tráfico de Pessoas: Oferta, Demanda e Impunidade” e “A outra face
de Eva- relações entre Religião, Violência e Mulher”. Também coordenei
juntamente com a professora Maria Quintero da USP, a edição do livro “Tráfico
de Pessoas: Quanto vale do Ser Humana na balança comercial do lucro?”.
O que você acha da vida de escritor em
um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?
Num
país em que grande parte das pessoas mal têm condições de suprir suas
necessidades básicas de sobrevivência, acho que é pedir demais para elas
compararem livros. O triste é que o nosso atual governo não se importa com
Educação o que faz com que o problema se agrave, ainda mais.
Como
você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?
Através
de meu irmão, compadre e amigo Antônio Romane, o Tonhão.
O seu
livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus leitores?
Eu
não me considero uma escritora. Escritores são Graciliano Ramos, Jorge Amado, ou
João Guimarães Rosa, entre tantos outros. Sou uma jornalista. Como al reporto
fatos que me emocionam ou me indignam.
Se o livro merece ser lido? Se o leitor quiser ficar por dentro do que ocorre em nossa sociedade e que dificilmente a grande mídia apresenta, acho que sim.
Se o livro merece ser lido? Se o leitor quiser ficar por dentro do que ocorre em nossa sociedade e que dificilmente a grande mídia apresenta, acho que sim.
Obrigado
pela sua participação.