27 março, 2015

Entrevista com Onivaldo Paiva - Autor de: A MORTE VISITA O QUILOMBO

Sou mineiro e moro em Uberlândia. Andei espalhando alguns contos e poesias por aí: pela internet, em jornais e em uma ou duas antologias na companhia de gente gabaritada na função de alinhavar palavras; entre os quais me misturei sem pudor com minhas linhas tortas como muitas vezes é a vida. Demorei a me dedicar à literatura, pois as exigências da vida me impeliram por outros caminhos, alguns tortuosos, outros nem tanto. Porém, pelas estradas que percorri, não me ficaram cicatrizes, mas sim fui guardando as belezas da vida, das coisas, da natureza e das pessoas. Enfim, do que bem ou mal aprendi, saiu-me este livro. Agora só me resta dizer: “Vá livro meu! Vá buscar quem te ame ou te odeie!” Aí vai o livro, se os leitores o aprovarem, outros livros sairão do embornal logo, logo.

Estórias de homens que muito cedo foram atropelados pela tragédia e o único caminho que conhecem para reagir é o da violência rápida e mortal. Homens que habitam um universo em que a honra se lava com sangue e matam por ninharias. Cada um tem suas histórias de amores intensos ou frustrados, e muitos desses amores com mulheres aguerridas ou traiçoeiras que lhes dão motivos para enveredar pelo crime. Neste mundo cheio de contradições, eles não passam de vítimas e algozes. Treinados nas artes de matar, foram contratados para resgatar a filha de um rico fazendeiro. E a matança começa...

“Porém, surpreendentemente, nem tudo neles é brutalidade: debaixo daquelas carrancas há sentimentos nobres, virtudes, sensibilidade e ética, lá ao modo deles e jamais hesitam em se sacrificar na defesa do mais fraco, sejam animais ou gente”.
Olá Onivaldo. É um prazer contar com a sua participação no Blog Divulgando Livros e Autores da Scortecci do Portal do Escritor.

Do que trata o seu Livro? Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?
O livro publicado pela Editora Scortecci é um pequeno romance, meio à la Guimarães Rosa, com o qual não tenho a pretensão de me comparar e respeito a distância que há entre o mestre e um aprendiz, apenas o cenário é parecido: o sertão e a vida atribulada de jagunços. Este meu “A Morte Visita o Quilombo” me surgiu de dois jagunços que conheci, um dos quais matou o irmão em uma briga, não por inveja, como na história bíblica, mas por causa de um rabo-de-saia. E o resto fui inventando.
O público leitor que busco é gente madura habituada a ler romances, embora me agrade, não nego, a fantasia de cativar os leitores do Porter, dos cinquenta tons (uma vez que neste meu Quilombo há umas pitadas de erotismo), e dos que gostam de vampiros e lobisomens, pois pouca diferença há entre essas aparições assustadoras e os meus “piedosos” matadores.

Fale de você e de seus projetos no mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
Plantei algumas dezenas de árvores, desde jabuticabeiras, mangueiras e cajueiros. E uns pés de aroeiras, de cedros e bálsamos, madeiras de lei que, se as motosserras deixarem vão durar séculos. Filhos, criei três que estão por aí, pagando impostos, gerando empregos, pagando dízimos. Honram-me. Livro me saiu este primeiro e se os leitores o aprovarem outros livros sairão de meu embornal logo, logo. A Scortecci que se prepare para editar um cartapácio meu, coisa assim dumas trezentas páginas, onde botei uns dez ou vinte tons de paixões e aventuras, de fraudes e desencontros como convém temperar um livro que tente agradar gregos e troianos. E quanto a publicar muitos livros: o afã de “aparecer” me aguilhoa, mas o pudor me segura medroso que sou de publicar porcaria.

O que você acha da vida de escritor em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?
Tem muita gente lendo, principalmente o lixo que nos vem do estrangeiro. Basta traduzir mal e mal e botar uma figura de mulher seminua na capa que a vendagem é certa! Não temos, no Brasil, poucos leitores, temos alguns sem tirocínio (tradução: sem entendimento do que é boa literatura) comprando joio e engolindo como trigo. Escritor brasileiro, teimoso, tira dinheiro do bolso para publicar e depois amarga uns 900 exemplares encaixotados num quartinho pegando mofo. Esta é a realidade. Aforamente aquelas moças (realmente talentosas, admito) que escrevem pras mocinhas e criam personagens masculinos “lindos, lindos”, loiros de olhos azuis [ou verdes, não estou certo] e suas heroínas são sempre sedutoras, de corpo perfeito, e que afrontam os maiores perigos e no “The End” são felizes para sempre, e vendem um tantão de livros, o resto, onde estou, e também muitos colegas, vendem um livro aqui, outro ali, presenteiam amigos, doam para escolas e, alguma vez ou outra, se dizem, orgulhosos: “Publiquei um livro!”. Enfim, com leitores ou sem leitores, a vida de escritor é gratificante. Em qual outra atividade ou profissão se pode dizer: “Eu criei mundos!”?

Como você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?
Por meio da Internet. E fui muito feliz ao optar pela Scortecci Editora para publicar meu livro: revelou-se empresa séria e competente. Em nenhum momento me faltaram assistência e orientação, as respostas me vinham prontas e claras de todos os setores: diagramação, revisão, capa, etc, etc.

O seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus leitores?
Quem publicaria um livro sabendo ou julgando que não merece ser lido?
Se eu não acreditasse que mereço ser lido não o publicaria. Entretanto, mesmo com as dificuldades que um autor desconhecido enfrenta para publicar, e sabedor de que há muita porcaria sendo publicada (paga pelo autor ou não) há que, quem acredita no que escreve, lutar para se sobressair no meio desta montanha de livros, esperançoso de que um ou outro leitor o encontre e o aprecie. Um leitor de boa cepa que seja desses que “busca uma agulha no meio do palheiro”.
Repito: Há muito joio e pouco trigo no que se publica. Mas espero que em minha obra exista algo aproveitável aqui e ali. E, mais do que instruir ou consolar o leitor (o que não é função da ficção), o distraia, o alegre ou o entristeça. Enfim que o sensibilize. Assim me sentirei recompensado.
Concluindo, parabenizo a Editora Scortecci porque não apenas nos publica, mas se esforça em divulgar os escritores que edita. E esta é uma boa parceria entre editora e autores, pois que editado, mas não divulgado é tal como chorava aquele profeta:
“De nada adianta pregar no deserto”.

Obrigado pela sua participação.

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