Nasceu muito longe da virótica cibernética e passou rica infância pisando descalço, bebendo de poço, improvisando brinquedos de barro e lenha, num quintal sem muros onde todo espaço dividia com animais, corredeira, lago, açude, plantações, roçados, flores, frutos. Aprendeu o risco de atiçar casa de marimbondo, se aproximar de boi bravo, ofender pai e mãe. Infantizou puro de malícias, crendo, até quase em pelos, em cegonha-parteira, saci-pererê, pilorda, papai-noel, pecado mortal. A tudo superou sorvendo suas metáforas, mas a crença em Deus se expandiu por reconhecer na sua divina expressão, a manifestação do amor como fonte única da evolução. Sexagenário viajado, estudou, correu mundo, casou-descasou, casou-descasou, fez filhos, ganhou netos e amou o quanto pode. Embalado por veia poética, ensaiou roteiros pra cinema e juntou aqui e ali impressões no papel, sempre que o reclamo de alma exigia satisfações. Colheu o que pode de diferentes estágios para compartilhar nesse livro experiências e reflexões.
No abismo silencioso da mente, Bernardo plasma campos de verde-viço, águas limpas, olhares mansos, amor em calda onde todos bebem da mesma colher. Ele se embrenha nesse imenso pasto de fartura ao largo de julgamentos, como fragmento da mesma massa manifesta em pedra, terra, água, mata, animais...
“A verdadeira essência da arte está no prazer da descoberta, ao percebemos a luz valorizada na sombra tênue da pintura; o sustenido musical integrar dois movimentos quase imperceptíveis; a expressão silente do ator no profundo da dor; a plástica cênica do bailarino preencher o palco em gestos de nirvana; o vão oculto das palavras revelando caminhos inusitados.
Passeie pelos textos como num domingo de sol e procure nas metáforas camufladas de letrinhas, o cerne, o profundo, a razão e, sobretudo, a beleza, com o desprendimento de acolhê-la quando aquece o coração ou quando corta pulsos, que em tudo há a maravilhosa dádiva da vida”.
Olá Antônio Bernardo. É um prazer contar com
a sua participação no Blog Divulgando Livros e Autores da Scortecci do Portal
do Escritor.
Do que trata o seu Livro? Como surgiu a ideia
de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?
É um mix de poemas, contos e
escritos, esses últimos assim rotulados por falta de melhor definição. Escrever
é um apelo de alma desde bem antes da puberdade, mas a timidez (ou o medo do
fracasso) me tolheu até hoje, quando finalmente me solto para compartilhar,
consciente em oferecer bom material para reflexão sobre a vida. Meu público é o
que busca no detalhe a aprovação da arte.
Fale de você
e de seus projetos no mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas
o sonho realizado de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
Meu livro fala de mim, marcando uma
trajetória de mais de sessenta anos em textos produzidos em diferentes estados
de consciência. Sempre desejei me expressar e viver da literatura – não tive
competência. Fui me entretendo com a vida, me deixando levar... mas o teclado
me chama e se impõe: escreva! Como resistir?
O que você
acha da vida de escritor em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é
pouco valorizada?
Não somos bem um país, mas um campo
de provas. Aqui é onde Deus faz suas experiências, acomoda carmas, planeja o
amanhã. Tudo vale. Em todas as profissões há os bem sucedidos, os escondidos da
sorte e os medíocres. Acha que a literatura é maior que essa verdade?
Como você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?
Pesquisando... mas foi meio sem
querer, buscando sites aleatoriamente. Visitei uma e não gostei da qualidade
dos trabalhos, nem da entrevista, que transpareceu puramente comercial. Com
vocês encontrei calor humano.
O seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem
especial para seus leitores?
Claro! Fosse falado, mereceria ser
ouvido! Meus textos convidam à reflexão e se abrem a diferentes estágios de
consciência. Valorizam o papel das metáforas, onde a verdade se esconde – aí o
maior benefício. É preciso mergulho profundo pra trazê-la à tona e revelar seus
segredos, onde o amor é matéria prima, caminho, função. Não serve aos
preguiçosos de mente nem aos ávidos por banalidades. Ao meu leitor repito
fragmento do texto de abertura do livro: “Lancem-se nele com o ímpeto dos
destemidos, a curiosidade dos buscadores, a sede comum aos desbravadores e
portas do coração se abrirão num ampliar de horizontes. Participem, interajam,
comentem honestamente, que à arte tanto pesa a implosão quanto o banho de
orvalho, pois a catálise do som de um e o silente frescor do outro são fórceps
para novo poema. Sempre. Ler é mais imaginar. Descobrir vãos de palavras onde
se entoca o silêncio que tudo revela, a escuridão que tudo ilumina”.
Obrigado pela sua participação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário