20 abril, 2024

Sergio Gonçalves Freire - Autor de: O INVERSO DO NEXO

Gosta de se definir como filho de imigrantes, torcedor do São Paulo e apaixonado por literatura. Nascido na capital paulista, em 1971, passou a infância e adolescência cercado pelo asfalto e pelo compasso frenético de um bairro operário, onde “presenciava a realidade diária dos que lutavam pela subsistência”. As lembranças daqueles tempos árduos e de transformações políticas e sociais que absorviam a cidade nos anos 80 permaneceram como traço de personalidade, segundo diz. Começou a trabalhar aos 15 anos, quando ingressou no Banco do Brasil (BB), após saber, na escola pública em que estudava, que haveria uma seleção entre os bairros da região para vagas de menor aprendiz na empresa. Seguiu carreira no BB. Nos últimos vinte e três anos, atuou em diversas áreas ligadas à estratégia de comunicação do banco. Atualmente exerce o cargo de Gerente Executivo de Imprensa e Risco de Reputação. Passou a residir na capital federal em 2001. Hoje, considera-se um paulistano que se rendeu a Brasília, por se dizer “fascinado por esse impossível desejo de organização e uniformidade da cidade que a todo momento é transformado pela vida”. Meio jornalista, meio bancário. Um pouco saudosista e um tanto curioso. Hoje, o gosto pelo futebol; amanhã, pelas letras. Dessa miscelânea toda é que brota a poesia.
Esta coletânea de poesias contempla temáticas muito distintas. Há poemas líricos e outros mais próximos de reflexões existencialistas ou que se valem da ironia na abordagem do cotidiano observado pelo autor. É clara a intenção do poeta em elaborar uma obra dinâmica por meio da pluralidade de temas apresentados. Esse desejo do autor vem acompanhado de outro aspecto responsável por influenciar, com igual força, o surgimento de poemas com variadas abordagens. Trata-se do tempo de reunião da coletânea, que reflete a travessia do autor por sentimentos e sensações que o transformaram ao longo dos anos. Como elemento de junção de toda essa diversidade, encontra-se o predomínio dos versos livres. As rimas e métricas são deixadas de lado pelo autor em favor de uma linguagem mais fluida e coloquial. Aspectos de um ritmo de prosa são recorrentes na sucessão de versos, mas isso, em momento algum, deixará qualquer dúvida ao leitor de que cada palavra está a serviço do discurso poético. O estilo, que garante unicidade à obra, flerta, em diversos momentos, com o corte seco nas frases para levar a uma sequência de percepções que possa sugerir ao leitor expectativas e surpresas na assimilação de cada linha dos poemas. Ao chegar ao final da leitura de O inverso do nexo, o leitor certamente terá o que refletir e será levado a assumir novas perspectivas e significados pelas imagens e pensamentos que os poemas lhe provocaram.

Entrevista

Olá Sergio. É um prazer contar a sua participação na Revista do Livro da Scortecci

Do que trata o seu Livro?
É uma coletânea de poesias que busca retratar temas diversos, indo do lirismo à ironia ou do pessimismo à gratidão. Acredito que a vida seja uma tensão permanente entre sentimentos opostos e uma fusão entre nossos desejos e os acontecimentos aleatórios que nos cercam.
Na minha concepção do que possa ser uma das finalidades da literatura, a poesia precisa refletir todas essas incertezas a que estamos submetidos, sem deixarmos de ver beleza nisso. A existência pode vir acompanhada de agruras e nem por isso abriremos mão de buscar a felicidade.
Essa luta permanente e a necessidade de enxergar o belo, mesmo perante nossas contingências humanas, são visões de mundo que procuro colocar em meus versos.

Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?
Os poemas foram surgindo ao longo do tempo e a ideia de sequenciá-los em livro foi amadurecendo nos últimos dois anos.
Todo o autor, de certa forma, escreve para um leitor implícito. Dizem que é uma impossibilidade psicológica considerar que se escreva apenas para si. Nunca pensei em um público específico a que se destinasse a obra. A única preocupação desde o início foi fazer com que o livro trouxesse poesias que não se limitassem a comover, sucumbindo a um lirismo dócil. Era preciso ir além. Sempre foi importante que os versos incomodassem e provocassem reações no leitor, para que ele pudesse refletir sobre fatos ou sentimentos, mesmo que uma latência de mal-estar surgisse após a leitura de determinado poema. O mais importante foi estimular perspectivas de pensamento ao leitor e ampliar visões a partir do que sugere cada verso.

Fale de você e de seus projetos no mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
Sou jornalista de formação e tive a oportunidade de participar da elaboração de um livro-reportagem com outras duas jornalistas. Fomos literalmente a campo e retratamos a realidade de assentamentos de reforma agrária no país.
No dia a dia, o meu contato com as palavras ocorre de forma frequente. Trabalho como gerente executivo de imprensa, comunicação interna e risco de reputação em um grande banco e sou responsável por produzir e gerir a elaboração de estratégias de comunicação, discursos institucionais, artigos e os mais diversos materiais de divulgação.
Exercer uma profissão que exige lidar com comunicação e todas as suas potencialidades é algo que me traz enorme satisfação. Já a literatura traz outras abordagens na relação com a palavra. Ao ingressar nesse universo, saímos da linguagem literal e mergulhamos no campo da polissemia. Trata-se de uma complexidade que me fascina cada vez mais. Outros projetos no campo da literatura virão. Mas, em uma próxima vez, será algo escrito em prosa..

O que você acha da vida de escritor em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?
Se algum autor pensar no mercado consumidor de livros, não terminará um parágrafo de sua obra. Isso vale principalmente para os escritores iniciantes, que ainda não possuem um público cativo.
Escrever precisa ser, acima de tudo, uma necessidade de se expressar, independentemente se a obra vai alcançar cem ou cem mil pessoas. O que importa é o sentimento do autor que se materializou em algo que estava contido. Além disso, o próprio ato da escrita é um exercício intelectual extremo, que alinha ideias internas e provoca percepções ao escritor de uma forma que ele sequer imaginava.
É claro que viver em um país que lê pouco causa preocupação, principalmente, ao pensarmos como queremos nos constituir enquanto sociedade civil e cidadãos. A leitura tem um papel fundamental para que as pessoas compreendam melhor a sua inserção social e a participação histórica que possam cumprir no atual momento do país..

Como você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?
Um grande amigo, Newton Cesar, lançou um livro pela editora, sobre a história dos jogos de futebol entre Brasil e Argentina. Adorei o livro e todo o trabalho editorial da publicação. Foi ele quem me indicou a editora e eu prontamente segui o conselho.

O seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus leitores?
Ser escritor é ser lido. É intrínseco ao ofício. Como todo iniciante na literatura, tenho a expectativa de que os leitores possam avaliar meu trabalho e me trazer suas percepções. São essas conexões com os leitores que permitem ao escritor continuar evoluindo em sua obra.
Não vou aqui fazer juízo de valor do meu trabalho. Cabe ao leitor esse papel. Posso apenas dizer que tentei ao máximo escrever com autenticidade, a partir dos sentimentos que carrego. Se houver filtros no que expresso, posso dizer que são escassos esses momentos que impactem a fluência entre mim e os versos.
Sobre uma mensagem especial aos leitores, gostaria de deixar um dos versos do livro: “Todas as sórdidas coincidências fazem miragens tão concretas”..

Obrigado pela sua participação.

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